Os esquecimentos às
vezes nos causam sérias decepções. Quem nunca esqueceu alguma coisa? Uma
consulta marcada, um caderno na escola, de colocar o relógio a despertar, o
aniversário de alguém mais próximo, etc. Sem contar as coisas que você já
esqueceu e não se lembra mais, porque estão esquecidas.
Na verdade, comecei a considerar
o esquecimento como uma forma de “lembrança
retardatária”. Seria como uma espécie de “imagem atrasada”, que se forma na
mente, quando muitas vezes não adianta mais. Provavelmente se originou daí a
famosa frase, “é tarde de mais”. Estas lembranças retardatárias estão mais
ligadas aos homens do que as mulheres, talvez por uma questão de genética.
Para tomarmos
consciência de que esquecemos algo precisamos primeiramente lembrar do fato,
salvo quando alguém nos ajuda a lembrar (geralmente a mulher). Só que esta
lembrança chega atrasada, resultando assim o esquecimento. Resolvi escrever
esta crônica justamente hoje, após a chegada de uma dessas lembranças
retardatárias.
Certa vez viajei e estive
num hotel durante poucos dias, para participar de um evento. Uma das
recomendações (dentre muitas) de minha esposa era sobre um porta-sabonete, que
ganhará de presente de sua mãe, minha sogra, o qual não poderia esquecer de forma
alguma no hotel. No decorrer dos dias, quando me deparava com a saboneteira, lembrava
do compromisso de trazê-la de volta. Tudo estava de acordo. No dia de retorno,
ao fazer a revista geral no quarto, esqueci de conferir no box do banheiro. O
resultado foi óbvio, minha esposa me cobrou a bendita saboneteira, e foi nesta hora que me lembrei de pegá-la!
Infelizmente “tarde demais”. É claro minha esposa não gostou nem um pouquinho da
minha argumentação sobre “lembrança retardatária”,
porém foi o que me salvou naquele momento. Reconheço que este argumento é
de caráter sofista. Minha teoria foi utilizada para me salvar da situação, mas daí
em diante, comecei realmente a crer nela.
Outro fato que me
ocorreu mais recentemente foi num domingo que sai com minha família, para visitar meu irmão, em outra cidade. Não quis levar muita coisa para evitar preocupações,
afinal de contas iria ficar fora apenas algumas horas. Levei apenas dois livros,
sendo um de presente ao meu irmão, também levei uma blusa e minha carteira com
os meus documentos, cartões, etc. Coloquei tudo dentro de uma pequena bolsa
para evitar grandes volumes. A viagem foi ótima e tudo estava muito bem. Estava
ansioso naquele dia pois tinha viagem marcada na terça-feira, e ficaria fora do
estado por alguns dias. Lembro que no retorno para casa, conversei
com minha esposa sobre a possibilidade de fazer as "lembranças retardatárias" se adiantarem no tempo. Sugeri para isso uma reflexão do tipo
filosófica, crítica, sobre os nossos momentos passados durante o dia. Ou o
método não funcionava ou tudo estava normal, porque nem uma "lembrança retardatária" apareceu. Parecia
que, finalmente tudo estava em ordem, não tínhamos esquecido de nada. Ao
chegarmos em casa pela madrugada de segunda-feira, tudo estava tranquilo, nada
estava faltando. Pela manhã, resolvi fazer uma listagem de coisas
essenciais que eu teria que levar para minha viajem na terça-feira. O motivo
desta listagem já era para evitar esquecer alguma coisa. Claro, agora tinha
aprendido, iria levar a lista e fixa-la na porta do hotel onde pudesse
visualizá-la bem, para não a esquecer e também para não esquecer de nada no
hotel. Na listagem que estava elaborando, estava colocando coisas como
computador, cd’s, livros, camisas, carteira etc. Foi aí então que a "lembrança
retardatária" chegou:.
- Carteira! Há-a’!
- Esqueci minha carteira
com meus cartões e documentos na casa de meu irmão! Minha viagem na terça-feira
estava perdida.
E mais uma vez fui
vítima das “lembranças retardatárias”. Talvez
a reflexão crítica feita durante a viajem não tenha sido profunda o suficiente
para fazer as lembranças retardatárias se adiantarem no tempo. Lembre-se, só se
trata de “lembrança retardatária”
quando chega atrasada, quando não adianta mais e nos surge a seguinte afirmação
“tarde de mais”. Resolvi, então escrever esta crônica, para desabafar e me
acalmar um pouco, já que estou tão perdido e não sei o que fazer. Sinceridade
não posso mais confiar nas minhas lembranças, elas estão ultimamente na sua grande
maioria retardatárias, ou será que
isso não existe e tudo se resume apenas em falta de atenção, como diz a minha
esposa. Bom, por questões de segurança vou ficar com minhas teorias. Pelo menos
agora tenho um argumento mais convincente e não preciso utilizar mais a velha justificativa
sem nexo, frase hereditária que minha vó já dizia: “Eu sabia que tinha
esquecido alguma coisa! ”.
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